TRAVESSIA DE LIMA E NOVAMENTE A PANAMERICANA

Dia #12, 24/4/2019 - Quarta-feira
De ALIS a CARCONA (Peru) - 370 km rodados hoje - 6370 km desde Brasília503 km no Paraguai, 1343 km na Argentina, 1086 km no Chile e 1808 km no Peru.


1. Sou uma pessoa chegada a "Medições". Adoro números! Amo registrar tudo: distâncias, altitudes, temperaturas, velocidade dos ventos, consumo, horas paradas etc etc. Eu tenho tentado mudar isso nesse relato, mas vou ter uma recaída hoje. Acho que esse hábito irá me salvar do Alzheimer, mas não garanto!

2. Passei uma noite terrível hoje em ALIS, a 3300 msnm, com frio de 3 graus negativos. Pouco adiantou as 3 cobertas na cama. A friaca era de doer! Vocês se lembram daquele Whisky de 16 anos que comprei em Juan Caballero? Pois é, açambarquei-o em boas goladas! Isso salvou a  minha noite! Acordei por volta das 7h e fui amarrar a bagagem na Zuzu, que tinha ficado no relento. Vixe, o banco estava coberto de gelo! Voltei pra pousada e esperei cerca de 2h pra retornar, com a temperatura menos congelante.

3. Saí então com destino a Huancayo (vejam as fotos da publicação anterior). Os nativos disseram que seria um trecho pitoresco, inigualável... mas esqueceram de dizer que havia 48 km de trecho não pavimentado, 15 km do quais sobre lama escorregadia. Eu não faço a menor ideia como se pilota uma moto na lama, cujo conjunto (máquina, piloto e bagagem) beira os 380 kg.  E havia ainda curvas em cotovelo fechado (tipo sinal de "menor que" na Matemática: <), em aclives e declives bem acentuados. Eu deveria ter vergonha de confessar, mas em boa parte dessas curvas eu parava a moto no meio e ficava indo-e-vindo até embicá-la pro rumo da estrada, morrendo de medo de cair. Cacilda, véi! nas primeiras 4 horas de viagem eu havia rodado apenas 74 km. Fiquei 1h25 parado em 3 barreiras por causa de obras no trecho. Subi a quase 4000 msnm e a temperatura chegou aos 6 graus. Como essa é uma viagem de extremos, quando cheguei a Huancayo estava 32. Experiência bem variada!

4. Depois de Huancayo segui para Lima, ainda com muitas curvas e caminhões. Impressiona a favelização do Peru. É a quarta vez que venho ao país desde 2004 (no auge da Era Fujimori). As cidadelas se emendam uma nas outras, com muito lixo (garrafas pet e sacolas plásticas), buracos e óleo na pista, quebra-molas a cada 50 metros, semáforos demorados e um trânsito dos infernos, com todos os motoristas buzinando de maneira insana (eles colam a mão na buzina por pelo menos 5 segundos). Eu pensava que quebra-molas (aqui são quebra-queixos) eram uma criação brasileira. Mas não, é uma criação do subdesenvolvimento mesmo!!! No Peru, as lombadas são usadas pelo menos 10 vezes mais que no Brasil. Por menor que seja a cidade, não é possível atravessá-la em menos de meia hora. Em La Oroya foi 1h40 na travessia, com cerca de 5 km de caminhões enfileirados, com quebra-molas a perder de vista. Um exercício de paciência! 

5. Bom, a noite me pegou pelo caminho na região andina. Por volta das 17h estava tudo escuro. Andei cerca de 1h30 num breu danado para encontrar um favelão com condições mínimas de hospedagem. Cheguei então  à Carcona. Fiquei num hostal sem água quente e com um filete mínimo de água caindo do chuveiro. Mas, pelo menos, economizei! Foram apenas 20 soles (R$ 23,90) a diária.







Dias #13 e #14, 25 e 26/4/2019 - Quinta e sexta-feira
De CARCONA a TRUJILLO (Peru) - 736 km rodados hoje - 7106 km desde Brasília503 km no Paraguai, 1343 km na Argentina, 1086 km no Chile e 2544 km no Peru.

1. Hoje madruguei na estrada, antes de o dia clarear totalmente. Eu queria chegar a Chiclayo (860 km adiante), pra tentar entrar no Equador amanhã. 

2. Mas a rodovia já estava toda ocupada por caminhões enfileirados. Já nem eram mais os quebra-molas, mas curvas e curvas de 180 graus. Tive que atravessar pela terceira vez a Cordilheira dos Andes. Como eu gosto de medições, bati meu próprio recorde em altitude hoje: cheguei a 4826 msnm em Chincha, no topo das montanhas andinas. Friaca de 6 graus lá em cima. Meu recorde anterior era 4818 metros no Chile, nas proximidades de Paso de Jama, onde passei 5 vezes até agora (considerando que um deles foi de ida e volta).

3. A viagem não rendia! Minha maior preocupação desde Brasília era a travessia de Lima, que possui 40% da população do Peru e cerca de  60% de todos os veículos do país. Se nas cidadezinhas mixurucas o trânsito já é caótico, imagina na capital!

4. Devo ter passado por dentro de 30 ou 40 cidades. Algo curioso aconteceu, e não é piada! Peguei 100% dos semáforos no vermelho em 100% das cidades por onde passei. Impressionante como a cronometragem dos sinaleiros foram feitas para que os encontremos sempre fechados! 

5. Os semáforos mais demorados que encontrei até agora foram de 99 segundos, em La Molina, antes do início da Via Expressa para Lima. Quando vi a placa indicando as rodovia com 5 faixas de rolamento a 1 km, eu disse: Ueba!!!!!!! Mas 2 minutos depois eu estava dizendo: Snif snif!!! Putz, entrei na via expressa com as 5 faixas paradas. Uma loucura de engarrafamento. Pensei em sentar no meio fio e chorar!  Mas não havia meio fio algum... Preferi evocar as forças do Além! Baixou o Cabloco peruano em mim, o Mizihijo (versão do Mizifi brasileiro). Em Roma como os romanos; no Peru, como os peruanos! Saí cortando os veículos pela direita, pela esquerda, buzinando sem parar. Cheguei até a trafegar nas calçadas de pedestre pra avançar. Mas, 20 km depois, tudo se abriu! Retas, enfim! Cheguei pra Zuzu e disse: - Vamos correr pra compensar, minha linda? Zuzu não respondeu.... como "quem cala consente", enrolei o cabo (termo motociclístico que significa "acelerar como um louco"). Não vou dizer a que velocidade andei, quando os trechos de curvas acabaram, porque detesto dar mau exemplo! Mas consegui rodar hoje à tarde mais que nas últimas 48 h de viagem.

6. Uma constatação: o Deserto peruano acompanha toda a Panamericana. É impressionante andar 2 mil km nesse ambiente árido. Quando cheguei Lima, só sabia que estava ao lado do oceano porque o mapa do GPS indicava. Não era possível vê-lo, devido a neblina intensa.

Paradinha pra comer um pão com omelete

Neblina do Pacífico, na Panamericana

Panamericana

Deserto sem fim

Deserto sem fim 

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