DEIXANDO O PERU, PASSANDO PELO CHILE E CHEGANDO À ARGENTINA

Dia #20 - 2/maio/2019 - quinta-feira
De MOLLENDO (Peru) a CALAMA (chile)  955  km rodados hoje - 9.608  km desde Brasília503 km no Paraguai, 1343 km na Argentina, 1714 km no Chile e 4418 km no Peru.


1. Acrescentando outras coisas ao que já disse anteriormente:

1a) A PANAMERICANA é uma rodovia linda, mas não deixa de ter os problemas típicos dos países em desenvolvimento: buracos, óleo na pista, passagem demorada dentro de cidades, caminhões de tamanho desproporcional à capacidade da pista. Por essa estrada, só transitam caminhões de 25 metros pra mais ou com duas carrocerias emendadas. É normal que um caminhão, em trecho de subida, pare totalmente para que o outro, que vem descendo, faça  as manobras com segurança. A rodovia é estreita e não cabem dois caminhões simultaneamente na mesma curva (geralmente de 180 graus).  Para isso, invadem a faixa oposta. Não vi em todo o território peruano, após 4400 km rodados no país, uma única estação de pesagem de caminhões. Eles transitam com a carga que querem! E isso detona o asfalto! E trata-se de uma rodovia com pedágios, mas mesmo assim, passei por mais de 100 km de buracos, especialmente nos trechos mais montanhosos. 

1b) O povo peruano é ímpar! Sempre que pergunto a distância de algum lugar, a resposta vem em tempo. E eles nunca erram! Já me iludi com isso! No trecho Huancayo a Lima, eu parei em um posto e perguntei qual a distância entre as cidades. A atendente respondeu que seriam 7h de moto ou 8h de carro. Andei menos de 1 km e vi uma placa dizendo que Lima estava a apenas 270 km de distância. Putz, não é que demorei mesmo 7h para fazer esse percurso??? Caminhões e mais caminhões, curvas e mais curvas não permitiram avançar 1 minutinho além disso.

1c) Meu grande estresse nesse caminho de volta: retornar a Tacna para ver a Admissão Temporária da moto, sem levar comigo esse documento. Eu tinha o Boletim Policial apenas e os documentos nacionais, já que fui roubado em todo o resto! Quando cheguei à Aduana de Tacna/Arica, fui primeiramente ao local onde eu havia tirado esse documento na entrada do Peru. Quando cheguei à repartição responsável, a mesma atendente que havia registrado minha entrada no país no dia 21/4, estava lá. Ela me reconheceu por causa do colete do moto clube, que tem as bandeiras dos 14 países onde estive de motocicleta. Ela se lembrou de mim por causa disso! Toda simpática, lembrou-se que eu estava indo para a Colômbia! Eu contei para ela a respeito do roubo em Trujillo. Falei da minha saga pelas delegacias peruanas. Falei da minha ida à SUNAT em Miraflores (que era o órgão responsável pela emissão desse documento) e falei que na Aduana Central da Callao, foi-me dado um prazo de 12 dias para obter esse documento (aqui chamado de Permisso). A muchacha ficou estupefata! Disse que se eu mesmo tivesse ligado para a Aduana, ela me enviaria a cópia do Permisso por e-mail, sem qualquer burocracia!!! Putz, eu mudei totalmente meu planejamento da volta por causa desse problema, preferindo voltar à Tacna (isso não estava nos meus planos). Seria tão fácil resolver essa questão. Mas bem se vê que no Peru não há regras para as repartições públicas. Cada qual faz o que bem entende! Essa menina merecia um prêmio! Nem parece ser uma servidora pública deste país!

1d) A polícia peruana tem uma forma bem interessante de atuar na estrada. Ela aborda em lotes de 3 a 5 veículos. Se eu estiver no início da fila, a liberação é rápida, porque só são pedidos a identidade e o Permisso da moto. Se eu estiver lá no fim, melhor esquecer a pressa! O conceito de “celeridade” não existe por aqui! Não portam radares e as abordagens geralmente não são por causa de excesso de velocidade. A puliça "finge" que leva seu trabalho a sério. Para a rodovia a todo instante, mas não faz revista interna nos veículos. Isso quer dizer que traficantes, contrabandistas ou terroristas podem trafegar pelo país sem qualquer problema, desde que tenham o veículo em seu próprio nome. Vale registrar que as viaturas policiais são as caminhonetes Toyota Hilux 4x4 (que custam cerca de 40 mil dólares). São encontradas a cada 30 km de rodovia. Para um país tão pobre, onde os nativos sequer têm água encanada ou aquecida, existem Hilux demais!!!

2. Voltando ao diário de bordo: Saí de Mollendo em direção à Tacna bem cedo! Conversando com o dono da pousada onde pernoitei, ele disse que seria melhor eu ir pela Ruta Costanera e  não pela Panamericana. - Muy más hermosa, muy más pitoresca... E não transitava caminhões por lá. Uau, meu sonho dourado desses últimos dias era ficar pelo menos 10 minutos sem ter que ultrapassar um caminhão!!!!  Que beleza! Vou pegar essa Costanera e agregar algo diferente na volta pra casa! Mas, o cabra esqueceu-se de dizer que eu tinha que pegar 4 km de off road, em trecho de pedregulhos. Havia uma ponte caída pelo caminho e tive que entrar num desvio construído às pressas. Mas fui tranquilo... Com os dois pezinhos no chão... Cheguei à rodovia numa boa! Um trajeto lindo, mas também com muitas passagens por dentro de pelo menos 8  povoados. Não havia semáforos, mas centenas de quebra-molas. No Chile, voltei a pegar outros 18 km de off road no mesmo desvio de estrada que havia passado na vinda, por causa da reconstrução de parte da Ruta 5.

3. Entrei no Chile por Arica. Nesta cidade há uma tríplice fronteira: Chile, Peru e Bolívia. Eu cheguei a pensar em retornar pela Bolívia, mas acabei desistindo... Sempre que estive nesse país houve algum tipo de problema. Deixa pra lá!!! Depois de rodar 4.400 km no Peru, só quero ouvir esse nome novamente quando chegar nas proximidades do Natal (😆😆😆😆). Cheguei a Calama, capital da região do Atacama, às 21h. Pilotei no escuro por cerca de 2h. Eu não queria isso, mas não havia um único local para pousar no trecho de 322 km! E ainda sem postos de gasolina, desde Pozo Almonte. Dirigir à noite em rodovias chilenas é mamata! Existem olhos de gato por todo o trajeto e não há riscos! Mas o frio foi de arrasar depois das 19h. Vixe Maria! A temperatura era de 5 graus! E ainda tive outra pane seca... As distâncias sem abastecimento são características do Chile, impróprias para a baixa autonomia das motos. Eu carregava combustível no galão, mas transferi-lo para o tanque na escuridão da estrada, numa noite de lua nova, foi complicado! Resolvi dormir no mesmo local da vinda (no dia 20/4), o Park Hotel (3 estrelas). Bebi cerveja, pisco sour e comi como um condenado o ceviche oferecido no restaurante! CALAMA é a cidade daquele time de futebol que disputou a final da Libertadores da América com o Flamengo, em 1981: o COBRELOA! Naquela ocasião, o Flamengo foi campeão mundial!!! Mas nem sei o porquê de estar lembrando disso... Sou botafoguense, sofredor!

Trecho sem pavimentação para chegar à Costanera peruana

Pacífico outra vez! Já tá ficando chato!

Panamericana

Panamericana

Aduana do Peru

Trecho de off road de 18 km na Ruta 5 Chilena, por conta de reconstrução da estrada

Dia #21 - 3/maio/2019 - sexta-feira

De CALAMA (chile) a EL GALPÓN (Argentina) - 773  km rodados hoje - 10.381  km desde Brasília503 km no Paraguai, 1823 km na Argentina, 2008 km no Chile e 4418 km no Peru.

1. Saí de CALAMA, sob 5 graus de temperatura. Dureza começar o dia assim, mas fazer o quê?

2. Fiz o mesmo trajeto da vinda, passando novamente pelo Deserto do Atacama, encarando uma friaca de 8 graus ao meio-dia em Paso de Jama - fronteira Chile-Argentina. Cheguei a 4818 metros de altitude, com o nariz congestionado mais uma vez. Minhas folhas de coca foram levadas junto com a bolsa roubada no Peru. Passei mais uma vez pelos Caracoles da Cuesta El Lipán (um dos trechos mais belos das rodovias sul americanas) e pela Cuesta Mal Paso. Há cerca de 200 curvas de 180 graus em descida íngreme nessas duas localidades. Tudo que um motociclista mais deseja!


3. Entrei na Argentina e não tinha um único centavo em Pesos argentinos. Consegui abastecer  e comer no posto da YPF com Peso chileno, mas não faziam câmbio. Fiquei preocupado porque não tenho a intenção de passar por cidades maiores, já que meu GPS não funciona a maior parte do dia, sempre acusando "bateria fraca". É confuso transitar dentro de cidades grandes sem esse aparelho e trocar moeda estrangeira em cidades pequenas é difícil! Mas dois motociclistas argentinos, de Santa Fé, que conheci na travessia da fronteira, me socorreram e trocaram 100 dólares pra mim. Eles perguntaram qual cotação eu pretendia... Fiz umas contas de 1 Real a 10 pesos, comparando com o dólar, e disse que valeria 40 pesos (1 dólar a 4 reais). Os argentinos argumentaram que era pouco, que pagariam 45 pesos por dólar. Gostei da atitude! No meio motociclístico o espírito de irmandade prepondera! Nunca me sinto solitário, a despeito de estar viajando sozinho!




Cerro de Los 7 Colores, em Purmamarca (Argentina)

Estação eólica, em Calama (Chile)

Cuesta Mal Paso, na Argentina

Lhamas folgadas

Salinas Grandes, Chile

Trecho de subida da Cordilheira dos Andes, Argentina (a 4400 msnm)

Cuesta El Lipán, a 4740 msnm

Cordilheira dos Andes, nas proximidades de Purmamarca (Argentina)










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