NA ARGENTINA

Dia #5 - 17/4/2019 - quarta
De Assunção (Paraguai) a Los Blancos (Argentina) - 706 km rodados hoje. 2806 km desde Brasília, sendo 503 km no Paraguai e 663 km na Argentina.

1. Comecei o dia, no hotel Amalfi, tirando fotos com os simpáticos atendentes, Giberto e Carlos (faltou Ricardo, que não estava). Tomei o café da manhã e saí em direção à Argentina, 43 km adiante. Devo lembrar que meu GPS Zumo não estava funcionando. Descobri, depois de vários testes, que o problema estava na base instalada no guidão, por onde não está passando carga suficiente para manter a bateria interna em níveis funcionais. Conferi a ligação na bateria e dei uns jatos de spray limpa contato na base e no aparelho. Nada! Na minha perambulada de ontem, 35 graus na sombra, consegui comprar cabos e apetrechos para ligar o GPS direto, sempre precisar dessa base. Deu certo! Não seria possível sair de Assunção sem ele. Trânsito muito confuso!

2. Gastei 42 minutos em procedimentos aduaneiros para entrar na Argentina.  Estou cronometrando porque na minha última viagem pela Argentina, Chile e Peru, passamos 10h20 parados na aduana, mais da metade desse tempo nas do Chile.

    3. Eu fiquei devendo um comentário sobre o cenário paraguaio. Transitei por uma região de Chaco, uma planície imensa, cheia de alagados, córregos que transbordam e vegetação bem baixa, própria das regiões pantaneiras. Na Argentina, também transitei pelo Chaco, mas o cenário daqui é bem feio (olhando com o melhor dos olhares), e um calor que variou entre 37 e 45 graus o tempo todo. Ressalto que estou usando um conjunto de cordura, que deve aumentar a sensação térmica na pele em no mínimo 10 graus. Aliás, merece acrescentar que o conceito de temperatura não serve para motociclista! O que vale mesmo é a sensação térmica, porque estamos sempre expostos ao sol e/ou ao vento.

   4. O dia de hoje foi dureza! Andei 200 km a menos em relação ao planejado. Além dos procedimentos aduaneiros demorados, mal andei 6 km, fui parado pela Gendarmeria Nacional. Sinceramente não sei se existe inteligência por trás das estratégias policiais daqui. Essa abordagem aconteceu 5 minutos da fronteira e tive que novamente mostrar todos os documentos exigidos na aduana. E não havia outro caminho... 100% das pessoas que passam nesse posto policial vêm da aduana. Falei isso para o policial e o sujeito ainda me alertou que teriam outros 11 postos pela frente. Sinceramente, acho que as polícias paraguaias e argentina ainda vivem em estado de sítio.  Uma herança maldita da época das ditaduras sul-americanas.

    5.  É a primeira vez que transito por essa rodovia, dentre as 7 viagens que já fiz à Argentina de moto. Trata-se de uma região de comunidades tradicionais nativas (aqui chamadas pelos brancos de Pueblo Aborígene). Há um movimento dessas comunidades para conseguir médicos (prometidos pelo governo local e não cumprido). Por conta disso, tive que passar por 4 barreiras na estrada feita pelos nativos (com a proteção da Gendarmeria Nacional), com  no mínimo 3 horas de interrupção da via. Em 3 delas eu consegui passar, porque estavam liberando as motocicletas, também usadas por eles em suas localidades. Mas em uma determinada barreira, não me deixaram seguir. Eram um pouco mais 13h e só iriam liberar o fluxo às 15h. Eu só consegui ficar parado no sol por 10 minutos. Meu skywatch (aparelho de alta precisão que levo comigo) acusou sensação térmica de 45 graus. Não havia sombra em lugar algum. Um senhor que estava na fila, me orientou a sair da rodovia, contornar por terra um trecho onde havia diversas comunidades, e retornar à pista mais adiante, depois do bloqueio. Eu perguntei pra ele porque ele havia feito isso. Ele disse que temia ser agredido pelos nativos, mas moto eles não se incomodariam. Saí então do solão pra fazer esse trajeto. Cacilda, foram 27 km de off road, por uma estradinha estreita, cheia de trechos enlameados. Cheguei a atolar o pé na lama de tal forma que mal conseguia mudar a marcha da Zuzu, por causa da crosta que envolveu a bota. Tive que parar, tirar o excesso com um pedaço de pau e limpá-la esfregando areia. Mas beleza! Deu tudo certo, mas comecei a ficar mareado com o calor. Andei mais um pouco e vi um posto da YPF, com ar condicionado e wi-fi. Parei lá pra hidratar e mandar mensagens pros amigos e familiares. O ar fresco do posto me salvou de um desmaio.

    6. Sim, voltando a falar da puliça daqui, fui parado outras três vezes pela Gendermeria Nacional. Tive pane seca pelo caminho, mas estou levando um galãozinho reserva. Num desses abastecimentos, tive que entrar na cidade de Pirane (7 km fora da  rodovia). Quando estava saindo do posto, um agente da polícia municipal fez sinal pra eu parar. Encontrar com esse tipo já me faz tremer, porque são esses policiais – que se vestem  de azul claro, os reis do propinoduto nas rodovias argentinas. Achacam descaradamente os estrangeiros, pedem grana, inventam infrações... já passei por isso diversas vezes.  Quando sou abordado por um desses cabras, tenho vontade é de sair no braço (ui ui 😡😡😡). Mas a criatura não queria me achacar, apenas me alertar para as várias barreiras feitas pelos nativos mais adiante. Deveria tê-lo ouvido e mudado o rumo para Resistência (a capital da província do Chaco).

    7.  Enfim, no frigir dos ovos foram 8 paradas forçadas e uma pane seca (somadas com as do Paraguai, já foram 12). Atrasar 200 km na viagem por conta desses inconvenientes até que saiu barato! A noite me pegou pelo caminho e tive que entrar num pueblito de apenas 400  habitantes para pernoitar: Los Blancos, a 180 km do próximo posto de gasolina, dentro de um universo de 280 km sem abastecimento (isso é terrível para quem anda de moto). No dia seguinte, consegui comprar gasolina em outro povoado um pouco maior (com 800 habitantes), mas tive que encher o tanque com várias garrafas pets, a R$ 8,00 o litro.


(Gilberto e Carlos, meus suportes em Assunção) 
 (Adiós, Paraguay!)
 (Zuzu sem gasolina no meio do Chaco argentino)
(Off road de 27 km pra contornar barreira dos nativos na estrada)

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