SOBRE A INUSITADA EXPERIÊNCIA DE PILOTAR NO PARAGUAI

Dia #3, 15/4/2019, segunda
De Ponta Porã a Assunção - 470 km rodados hoje. 2100 km desde Brasília: 1630 no Brasil e 470 km no Paraguai.

1. Comecei o dia indo na Aduana para tirar o documento de trânsito da Zuzu pelo país. Lembro que já havia tentado isso 3 vezes no domingo. Cheguei às 8h do horário local. Entrei no prédio, achei tudo estranho, porque mais parecia um estacionamento, com uma escada em “Z” no meio e uma portinhola lá no fundo. Não vi ninguém e fui me dirigindo à portinhola. De repente aparece um sujeito fardado, magro, gritando com toda a força dos pulmões, num espetáculo de grosseria: Ei! Ei! Ei! Donde piensas que va! Repetiu essa frase 3 vezes. Eu me virei assustado, olhei pro esgualepado com aquele olhar de matador de faroeste mexicano e falei na bucha: - Usted esta lhamando a tu perro o esta intentando hablar comigo? (tradução: Você está chamando o seu cachorro ou está tentando falar comigo?). Acho que o cara tremeu na base quando viu a minha cara de mau (ui ui). Eu disse o porquê de estar ali, meio emputecido, e ele me orientou a subir ao segundo andar. Essa grosseria gratuita mexeu com meus nervos. Cheguei ao local indicado, havia 4 salas com paredes de vidro. Claro que fui à primeira. Lá havia um sujeito gordo, tomando café e comendo algo, conversando todo animado com uma colega de trabalho. Eu disse Bom Dia 3 vezes e o cara nem me olhou. É inacreditável alguém te cumprimentar esse número de vezes e o cara fingir que não ouviu. Mas aí a colega dele se manifestou, dizendo que o atendimento a turista era na sala seguinte. Fui lá e um servidor teve que ir atrás do único sujeito que sabia como registrar a entrada da moto. Caraca, véi! E ainda tive que ajudar o cara a preencher o formulário. (Fiquei sabendo depois que ESSE DOCUMENTO NÃO É NECESSÁRIO, desde que criaram o Passaporte do Mercosul!!!! Hoje não somos mais cidadão brasileiros pra efeito de aduana, mas do bloco Mercosul).

2. Quero falar da experiência de pilotar no Paraguai, porque é muito inusitado! Vamos lá: Neste país há duas polícias cuidando das rodovias: a CAMIÑERA (que dá os baculejos nos veículos) e a NACIONAL (que parece ser mais elitizada, e não incomoda ninguém). A primeira usa carros amarelo e preto, iguaizinhos aos do DETRAN e, pelas minhas observações, cada policial tem um veículo; donde se conclui que se virmos dois policiais na pista, veremos também dois carros. A segunda, a polícia Nacional, usa caminhonete branca de cabine dupla e geralmente tem 3 policiais por veículo (um deles sempre com uma cuia de chimarrão ou algo parecido na mão. Não é piada, é Estatística!). Em 100% das municipalidades paraguaias há controle policial de pelo menos uma dessas polícias, ou das duas, simultaneamente. Então, não é prudente andar acima dos limites de velocidades da via (acho que deve ser de 80 km/h no máximo), porque não existe a menor possibilidade de se trafegar 20 km sem dar de cara com a puliça. E eles são muito atuantes, me pararam 4 vezes em menos de 80 km rodados, mas acho que eles estavam curiosos com a Zuzu (porque ela não tem parentes por aqui). Descobri algo interessante também. Entre meio-dia e 14h30 não se vê viv’alma nesses postos policiais. Todos desaparecem pra encher a pança e fazer a sesta. Essa é a hora de “enrolar o cabo” (acelerar).

3. As regras de velocidade dos paraguaios devem ter sido plagiadas das do Brasil. De uma hipocrisia quase idêntica às nossas. Mas seguramente eles fizeram aquele exercício de piorar o que já estava ruim. Aqui existem placas de 20 e 40 km/h por todo lado, e algumas de 80 km/h de vez em quando. Então, a regra aqui é andar pianinho! Mas uma coisa deve ser ressaltada. Não são corruptos! Param o veículo, cumprimentam com aperto de mão, dizem bom dia, desejam boa viagem e fazem tudo rapidinho. Só conferem se os nomes da CNH e do documento do veículo são da mesma pessoa. Aí liberam a passagem, sem qualquer estresse.

4. Como disse antes, fui parado 4 vezes pelo caminho. Vou relatar cada um delas porque acho que foi até divertido. Já comecei o dia meio de mau humor depois do incidente na Aduana de Pedro Juan Caballero. E não queria que esse astral perdurasse. Toda vez que eu era parado, eu abria um sorriso e dizia: Buendia, señor! Já estendendo a mão para o policial. Ele respondia da mesma forma, muito solícito e simpático. Afinal, eu estou aqui pra me divertir.

5. Vamos lá:

5.a) PARADA policial 1: Dois policiais na via e apenas um me aborda. Muito simpático, pede CNH e Documento da moto (nada de Carta Verde ou trâmite aduaneiro), apenas isso. Confere o nome e libera, desejando Buen Viaje! Esse primeiro era um oficial baixinho, de 1m60 no máximo. Ficou impressionado com o tamanho da Zuzu (enorme para o porte dele). Aí ele fez uma pergunta capciosa: - Essa moto passa de 130 km/h? Eu pensei: - Esse cara tá de sacanagem comigo. Tá querendo jogar verde pra conferir se eu viajo correndo. Eu respondi na maior cara de pau: No lo sé! Eu viajo sempre tranquilo, a 80 por hora (😂😂😂)... meu nariz deve ter crescido meio centímetro depois dessa resposta. Mas depois fiquei pensando que ele poderia estar curioso mesmo, porque 9 em cada 10 motos por aqui são aquela POP 100 da Honda. Não deve andar muito acima de 100 km/h.

5.b) PARADA policial 2: Desta vez a dupla policial era um casal. Eles estavam logo após um placa de 20km/h. Sinalizaram para eu parar e eu pensei acá com mis botones: - Me ferrei! Estou a 80 km/h, quatro vezes a velocidade da placa! Vou ser multado! Mas foi uma abordagem bem cordial, nada relacionado a isso. Aliás, quero ressaltar que a policial da dupla era uma muchacha muy hermosa, de cabelos longos e um sorriso suave bem interessante. Mas quem me abordou foi o muchacho (o homem). Muito solícito, fez a conferência rápida e me liberou. Quando eu estava ligando a moto para seguir viagem, a policial feminina, falou: - Uau, que máquina! Eu disse: - Gracias! Até agora não sei se ela falou se referindo a mim ou à Zuzu! (😇😇😇). Putz, essa foi ridícula!!!!! (😜😜😜).

5.c) PARADA policial 3: Nessa eu já estava ficando de mau humor, fui parado novamente 10 km depois da segunda abordagem. Fiz cara amarrada, entreguei a documentação e pronto! Já estava preocupado porque a viagem não rendia e o calor estava à beira do insuportável, com um sol maldito sobre a cachola.

5.d) PARADA policial 4: Essa foi engraçada! Nas três barreiras anteriores, todas foram da polícia CAMIÑERA. Mas essa foi da polícia NACIONAL, aquela que não incomoda ninguém! O policial estava no meio da pista e sinalizou algo. Eu parei no acostamento e fui pegando os documentos pra mostrar. Ele chegou e perguntou: - Pra onde vai? Quer ajuda? Eu respondi meio seco. E aproveitei pra despejar uma série de reclamações sobre essas abordagens: - Como vocês são atuantes, o senhor é o quarto a me parar em apenas 80 km. Vocês estão bem preparados para uma guerra, heim? Se fosse na Síria eu até entenderia tanto cuidado. O oficial fez uma cara meio surpresa e disse: - Eu não pedi para senhor parar. Eu fiz sinal para seguir, te desejando boa viagem. Putz, eu não sabia onde enfiar a cara! Entendi tudo errado! Apertei a mão do cabra e agradeci. Ele pensou que eu tinha parado para pedir alguma informação. My God! Mais uma ‘flavada”!

6. Vocês se lembram daquela bermuda de ciclista que eu estava usando? Que parecia uma fralda geriátrica? Pois é, joguei fora pelo caminho!A intenção era proteger a próstata, não cozê-la!

7. Cheguei em Assunção sob 40 graus de temperatura. A sensação térmica dentro do conjunto de cordura devia ser de 60 graus. Paguei um táxi para me guiar até o hotel, porque meu GPS bichou de vez. O trânsito da cidade é muito louco, mas os motoristas são solícitos, dão passagem, buzinam pouco... e também não dão seta! Estou no hotel Amalfi, contratado pelo convênio da Bancorbras. Assunção é linda! Não sei porque não vim aqui antes. Fica a apenas 2100 km de Brasília. Abatendo as "flavadas", deve dar bem menos (😂😂😂).