NO VALE DO RIO CAÑETE

Dia #11, 23/4/2019 - Terça-feira
De NASCA a ALIS (Peru) - 489 km rodados hoje - 6000 km desde Brasília503 km no Paraguai, 1343 km na Argentina, 1086 km no Chile e 1429 km no Peru.


1. Hoje passei por cinco situações de risco! Quatro delas dentro de Ica, em conversões feitas irresponsavelmente por motoristas locais, além de uma entrada abrupta de um tuc-tuc na minha faixa, vindo do acostamento. Pena que a Panamericana passe por dentro de tantas cidades, porque é sempre uma incógnita atravessá-las de modo seguro. A quinta foi na estreitíssima estrada que atravessa o Vale do Rio Cañete (exatamente meia pista), por um caminhão com carroceria vazia, que vinha embalado em trecho de descida com a caçamba quicando na pista. Quase não sobra espaço pra mim e por pouco não me jogou no abismo, com o rio passando a 100 metros abaixo de onde estava. Não mencionei isso, mas até 2017 eu tinha pavor de altura. Sempre tentei vencer isso com exercícios de respiração, que nunca deram 100% certo. Submeti-me a uma única sessão de hipnose com meu amigo Mário Guilhon e tudo se resolveu! Eu não teria encarado esse trajeto com as fobias que eu carregava até esse tratamento. Obrigado, Mário Véi!

2. A maioria dos motoristas peruanos ainda não descobriu pra que serve o espelho retrovisor e a seta. Entram na pista sem sinalizar, fazem conversões inesperadas e não tem a menor ideia do que o mundo civilizado entende por preferencial. Aqui é de quem chega primeiro! Metade dos acidentes graves (ou trágicos) que envolve motociclistas europeus em viagem pela América do Sul, acontece no Peru. É difícil conseguir uma seguradora que faça extensão de perímetro para este país. Eu mesmo não consegui fazer seguro pra Zuzu para o território peruano. Na nossa viagem do ano passado, um motociclista europeu atropelou um senhor idoso que andava pela rodovia como se estivesse na cozinha da casa dele. É tudo perigoso por aqui. Os 700 km de curvas que passei  desde que entrei na Panamericana, quase a metade de 180 graus, é fichinha perto das peripécias dos motoristas dentro das cidades. E olha que estou na minha quarta viagem pra cá. E me julgo bastante escolado em lidar com o trânsito daqui.

3. Hoje dei umas cabeçadas para chegar ao Vale do Rio Cañete através da Reserva Yauyos, pelo caminho que começa em Lunahuaná, tudo isso no Peru. Fiz um trajeto de 100 km a mais ao que passa por Huancayo (essa será a rota de amanhã). Eu tinha lido algo sobre esse trecho pitoresco e resolvi realizá-lo. Só que conseguir informações foi bem difícil. A merreca do GPS, sempre acusando bateria fraca, não identificou as cidades que eu pretendia passar. Comprei um chip pra celular local, em Tacna, pensando que teria acesso ao googlemaps, mas não funcionou!  Os peruanos sequer sabem o que é Cânion do Rio Cañete, o meu objetivo de hoje. Entrei na cidade de San Vicente de Cañete meio desesperançado. Era quase meio-dia quando um motociclista, numa Yamaha R15, me viu parado na praça e veio conversar comigo. Eu disse pra onde pretendia ir, e ele respondeu: - Te levo lá! Espera 5 minutos que vou em casa pegar o capacete. De fato, o jovem Martin Sanchez retornou no tempo combinado com capacete e colete do moto clube Pantera Bikers. Rodou comigo por 60 km até Lunahuaná e se despediu. Disse que eu gastaria cerca de 4h para rodar os 170 km de Lunahuaná até o Cânion. Eu pensei: esse menino não conhece Zuzu, mas ele sabia tudo da minha moto, mesmo sem nunca tê-la visto de perto. Um apaixonado por motociclismo! De fato, o trajeto era complicado mesmo. Toda a rodovia em meia pista (equivalente a uma única faixa de uma estrada), com trânsito de caminhões e vans indo e vindo, curvas e mais curvas em formado de anzol e, o mais grave, com peruanos dirigindo esses veículos. Gastei quase 8h nesses 170 km. Acho que Martin foi impreciso em dizer que eu precisaria de 4h apenas. Teve um acontecimento inusitado. Fiquei 1h atrás de dois imbecis conduzindo uma manada de bois pela pista. Eles espancavam os bichinhos com uma vara enorme e os animais ficavam nervosos, pulando de um lado para outro na pista. E os imbecis falando para eu não ultrapassar porque os boizinhos estavam nervosos. Claro, com tanta pancada no lombo, quem não estaria? Fico revoltado quando vejo um bichinho sendo maltratado. A estrada é perigosíssima! Há trechos em que não há pavimentaçâo, para atender a passagem de afluentes que descem as montanhas e cruzam a rodovia estreita, com correnteza forte. Em pelo menos um desses locais, havia pedras do tamanho de meia cabeça humana, com água batendo nos tornozelos. Isso é complicado pra quem não tem experiência em off road.

4. Cheguei ao meu destino com exatos 6000 km rodados desde Brasília (estranho a quilometragem bater exata), com temperatura de 7 graus às 19h, depois caiu para 3 negativos, mas eu já estava  dentro do hotel. O Cânion do Rio Cañete valeu qualquer esforço para chegar até aqui. Pena que as fotos que tirei não traduzem as belezas reais. Vou ter que repassar por ele, porque retornei para Alis, por não haver internet nem água quente em Tomas, onde eu pretendia dormir. Filmei quase todo o trajeto na Go Pro do capacete. O vídeo sairá uma maravilha, tão logo eu tenha tempo de editá-lo.

Panamericana

Martin me guiando até Lunahuaná

Yuri disse: A Terra é Azul!

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

Muchachas em Tomas, Peru

Martin Sanchez, meu salvador

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

Vale do Rio Cañete

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