NO DESERTO DO ATACAMA

Dia #7, 19/4/2019 - sexta-feira santa
De TILCARA (Argentina) a CALAMA (Chile) - 575 km rodados hoje - 3.872 km desde Brasília: 503 km no Paraguai, 1343 km na Argentina e 297 km no Chile.


1. Hoje foi um dia de sofrência! Eu estava tendo dificuldades de respirar desde que ultrapassei os 3000 metros de altitude. Masquei folhas de coca, que geralmente resolvem rapidamente esse problema de entupimento nasal. Mas desta vez não deu certo! Pilotei quase o dia inteiro congestionado, em alturas que variaram entre 2500 a 4800 metros sobre o nível do ar (msnm). Só que, não sei se vocês se lembram: meu lema é NARIZ e SORTE! É uma relação diretamente proporcional, de extrema dependência. Se o nariz está congestionado, a sorte fica temporariamente bloqueada. Foi exatamente o que aconteceu hoje. Não lembro de ter tido tanto azar como neste dia. Mas a recompensa virá a partir de amanhã (sou um daqueles que acredita que tudo na vida funciona entre altos e baixos).

2. Cheguei a Paso de Jama (divisa da Argentina com o Chile), beirando o meio-dia, numa temperatura agradabilíssima de 9 graus positivos (ontem fez 8 negativos às 17h). A aduana chilena é a mais demorada deste planeta. Já estive em 17 países e nunca vi nada tão parecido no que diz respeito à falta de bom-senso. Não fazem fiscalização por amostragem. Revistam tudo! E, de modo geral, só há um funcionário para fazer isso. Essa foi a razão de eu ficar 1h26 nesse trâmite (estou cronometrando para um comparativo futuro). Na aduana argentina foram apenas 14 minutos. Bom, só havia uma única funcionária pra revistar todos os carros e motos que entravam no Chile. Só de moto, havia 6 antes de mim. E devo ressaltar que estamos em pleno feriado de Páscoa, com um fluxo de veículos bem acima da média. E não há qualquer espírito de celeridade nessa aduana.

3. Prejuízo número 1 - durante o baculejo da bagagem, uma das duas máquinas fotográficas, que levo comigo, caiu no chão e parou de funcionar. Empenou o dispositivo que impulsiona a lente para fora. Não gostei da perda, porque eu a utilizo para fotografar enquanto piloto.

4. Prejuízo número 2 - PERDI O DRONE (ou ele se perdeu de mim)!!!!! Esses drones tipo Mavic não suportam ventos. Nem ventinhos "merrecas", de 20 km/h. O aparelho acusa instabilidade e é arriscado utilizá-lo nessas condições. Mas aqui o ventos estão sempre acima do patamar de "merreca", o que torna o dispositivo inútil nessas paragens tacamenhas. No único dia em que não havia vento, no Al Pucará (cidade de Tilcara), fui alertado para não usá-lo, porque havia muitos turistas e é proibido drones sobre a cabeça das pessoas... afinal, uma dronada na cachola deve machucar bastante. Mais adiante, já na Rota do Deserto chilena, escolhi um lugar bacana para iniciar minhas filmagens de cima. Um paredão na lateral da pista protegia o aparelho do vento, e escolhi esse lugar pra fazer o primeiro follow me da viagem (esse recurso é para o drone me seguir automaticamente enquanto piloto). Seria lindo se tivesse dado certo! Putz, eu mal tinha andado 300 metros e dei falta do drone nas minhas costas. Cadê ele? Sumiu!!!! Evaporou!!! E eu o programei para ficar a 5 metros do chão. Quando dei pela falta, parei a moto no acostamento e desci para procurá-lo.  Aconteceu algo que nunca faço, em hipótese alguma (nem na garagem da minha casa): deixei Zuzu em ponto morto sem querer. Eu mal tinha me afastado da moto e só ouço o barulho do estabaco do chão. Caraca, véi, Zuzu caiu feio! Pra levantá-la tive que contar com a ajuda de 2 muchachos que passavam numa van. Nesse esforço, minha lombar e minhas hérnias de disco entraram em pandarecos. Estou escrevendo esse relato com dores terríveis nas costas.

5. Prejuízo número 3 - quebraram o pisca esquerdo e a ponteira da manete de embreagem de Zuzu. Mas acho que dá pra chegar a Quito, no Equador, onde farei a revisão na concessionária da Triumph e acredito que encontrarei peças sobressalentes. 

6. Meu apelido no colégio Elefante Branco era Velho Índio  (Velho Índio "Nariz que Anda" ), inventado pelo meu parceiro e amigo Vicente Sá. Hoje foi o Dia do Índio no Brasil, mas não foi o dia do Velho Índio, diante de tantos problemas. 

7. Hoje atravessei o Atacama pela quarta vez. Eu cheguei a pensar que seria uma experiência meia-boca. Mas não é que gostei? O Atacama é o Atacama! Um lugar único em sua aridez e abandono. Uma região que mexe com as fibras da alma de quem passa por ela. Vejam as fotos de hoje.

 (Cerro de Los 7 Colores, Purmamarca)
 (Montanhas de Purmamarca)

 (Eu, diante do Cerro de Los 7 Colores)
 (Caracoles da Cuesta El Lipán, Cordilheira dos Andes, Argentina, 3800 msnm)
(No caminho do Atacama, ainda na Argentina)
 (Zuzu e as lagunas salgadas)
 (idem)
 (Deserto do Atacama)
  (Deserto do Atacama, Cordilheira do Sal)
(Monumento em Calama, Chile, onde pernoitei)
 (plataformas de sal pelo caminho)

(idem)

Comentários

  1. Caramba...melhor trazer essa sorte de volta...tem muito chão pela frente.
    Que bons ventos te guiem!

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    1. Nada como um dia depois do outro... ontem foi uruca, hoje será o Nirvana....rsrrs

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  2. Acabei de atualizar minha leitura do blog. Quantos percalços neste relato, mas ainda bem que teve esta experiência e estas sensações no Atacama! Belas fotos da viagem!

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    1. Os percalços fazem a viagem ficar mais interessante, melhor de ser relatada agora é no futuro
      Afinal, toda sofrência de hoje, vai virar piada amanhã... obrigado por me acompanhar daí... está gostando do relato?

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  3. Show!!!!
    Simplesmente show!!!!
    Mesmo com os percalços, vc, como poucos, sabe como contar uma boa história ...
    #acompanhandosempre

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    1. Obrigado André, estou tentando dar humor à narrativa. Afinal, estou aqui para me divertir. rsrs

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  4. Paso de Jama (divisa da Argentina com o Chile) é dentro da Reserva Nacional Los Flamencos (Atacama) né? Estive na entrada dessa Reserva em novembro do ano passado!

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  5. Quantos perrengues em um dia só, mas só acontecem com quem não está no Sofá vendo televisão kkkkk Boas estradas e melhor sorte! Grande abraço!

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  6. Eita! Tudo isso faz parte de uma aventura que precisa ter história pra contar! O drone fugiu na 1ª oportunidade! kkkk Lindas fotos!

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  7. A fotos ficaram ótimas!Um grande abraço, Flávio!

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